quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O Hermínio

Por: José João Pais

Conheci o Hermínio (foto), de um modo mais próximo, nos inícios da década de 90, do século passado. Tudo por causa do futebol.  Por essa altura, o vereador do desporto da Camara Municipal de Alpiarça era o Henrique Arraiolos. Lançou um desafio às coletividades no sentido de dinamizarem várias modalidades desportivas, nomeadamente, que me lembre, o basquetebol, a ciclismo, o futebol e outras, propondo-lhes ajuda em termos logísticos e financeiros. Nos Águias, o futebol estava parado. Fui desafiado a integrar uma secção no sentido de arrancar com uma secção de futebol juvenil face ao prometido apoio da Câmara. Assim foi. Eu, o José Manuel Miranda “Galo”, o Lucílio Ferrão, o Jorge Freitas, O Zé Joaquim Esteireiro, o Zé João Avelino e o António Moreira. Arrancámos com esta estrutura, apoiados tecnicamente pelo Manuel Colhe, a que se juntou depois o Paulo Estudante “Russo”. A coisa pegou, alargou-se a todos os escalões jovens e nos anos a seguir vieram mais jogadores, mais seccionistas, mais técnicos e mais massagistas (aqui recordo de um modo particular o saudoso Amadeu Gil). Entre os que se juntaram ao grupo, apareceu o Hermínio, cujo filho, o Marco, começava também a dar os primeiros pontapés na bola. Os seccionistas tinham, na grande maioria, filhos a jogar. E foi assim que comecei a privar mais de perto com ele. A secção tornou-se num grupo de amigos. Era assim que nos víamos uns aos outros. E estendia-se às nossas esposas. Eram elas que ajudavam no bar e confecionavam os bolos que ali se vendiam. E as festas de final de ano desportivo eram momentos altos desta confraternização desta sã camaradagem. Não admira, pois, que aí se iniciasse uma boa amizade com o Hermínio, com a esposa e com os filhos, que perdurará eternamente. Sempre me habituei a ver o Hermínio como uma pessoa equilibrada, ponderada, amigo de ajudar, sem levantar muito a voz para se fazer ouvir e nunca regateando esforços para desempenhar a missão que lhe era confiada dentro da secção. E nunca falhou. Durante vários anos foi assim.  
Mais tarde, por volta de 1995 (se a memória não me atraiçoa) tivemos outro desafio pela frente. As miúdas também queriam jogar à bola. Se não me engano, a oportunidade surgiu durante o aniversário do concelho. Alguém teve a ideia de fazer um jogo de futebol feminino. Eu e o Hermínio achámos piada à ideia e pusemos mãos à obra. Às nossas filhas, que eram “jogadoras”, veio juntar-se um grupo enorme, para surpresa nossa. A cada treino aparecia sempre mais uma. Chegaram a ser mais de duas dúzias. E os treinos arrancaram. O Herminio era o “mister”. Era o mais entendido na “táctica e na técnica”. Tinha sido jogador. Eu dava apoio e a São Moreira era a massagista. O equipamento foi fornecido pelos Águias. Era uma equipa “profissional”. Por isso, o treino era a sério, que o Hermínio levava tudo a sério. Aconselhava, ria quando era preciso rir, mas encarava a missão com muito respeito e disciplina. Agia como treinador, como um verdadeiro treinador, mas também como um pai e como um amigo. Era assim que o víamos. O primeiro jogo foi com o Valcavalense. Ganhámos 1-0, com golo da Catarina Favas. Um golo histórico na vida do clube. Parecia que tínhamos ganho a liga dos campeões. E outros jogos se sucederam. Em Alpiarça e noutras terras. Nesta autêntica romaria que cada jogo constituía, juntava-se a família de cada uma e os namorados de algumas. O “divertimento” e a amizade foram-se cimentando neste grupo cada vez mais alargado. Posso falar pelo que eu próprio sentia: gostávamos uns dos outros. Cada jogo era um motivo de alegria para todos, os que assistiam e as que jogavam. Com esta “brincadeira”, acabámos por ter 3 jogadoras na selecção distrital, a Joana Pinhão, a Mónica Bernardo e a Lénia, que integraram um jogo com a selecção nacional no relvado do CNEMA. Para nós, isto foi um acontecimento extraordinário e para elas um momento inolvidável. Para nós foi a recompensa por levarmos esta “brincadeira” a sério. Foi um prémio. Depois a vida escolar e os empregos fizeram com que as coisas se complicassem, em termos de treino e jogos. Cada um e cada uma foi à sua vida. Mas o que fizemos, todos, foi bonito, muito bonito.  E o Hermínio teve a maior quota-parte no êxito dessa iniciativa que ficou gravada como uma boa memória na vida de quem a viveu.
Foi assim que se construiu e se alimentou a minha amizade com o Hermínio. Amizade tanto mais forte e duradoura por assentar num pilar fundamental em qualquer sentimento: o respeito mútuo. Foi isso que aconteceu.
Esta mensagem foi feita ao correr da pena e com a memória a ditar as palavras. É provável que essa mesma memória, que já não é o que era, tenha tido lapsos no seu desfilar. Se qualquer menção, nome ou data, estiver menos correta, isso foi erro involuntário para o qual peço a benevolência do leitor. Mas o essencial está no sentimento com que foi escrito por mim e esse não está sujeito a correcções.   
  

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