A 150 metros da estação dos CTT de Alpiarça, cujo
encerramento foi anunciado pela empresa, um posto dos correios funciona há oito
meses numa papelaria, mas alpiarcenses ouvidos pela Lusa asseguram que não é a
mesma coisa.
Com ambos os serviços situados na mesma rua, na movimentada
estrada nacional 118, que atravessa esta vila do distrito de Santarém, a
convicção de António Rodrigues é de que o encerramento de uma estação dos
correios que já estava aberta quando veio morar para Alpiarça, "há 44 ou
45 anos", é "uma grande perda para todos".
"É muito mau. Não concordo que fechem os correios,
porque temos que nos deslocar muito longe para depois resolver os nossos
problemas em relação aos correios, ou irmos a Almeirim ou irmos a
Santarém", disse à Lusa, salientando a dificuldade de deslocação,
sobretudo para os mais idosos.
Convencido que o posto dos CTT a funcionar na papelaria
"não presta o mesmo serviço", António, que usa os correios para pagar
a luz e "determinados serviços", confessa, contudo, que nunca lá foi
nem sabe onde é.
Também António Marques está convencido que o encerramento da
estação "é um mau serviço", porque "isto é um posto dos correios
que é útil em qualquer localidade, e em especial aqui em Alpiarça que é sede de
concelho e tem uma população de cerca de sete mil e tal habitantes".
"É isto, já se fala pr'aí à boca fechada que no futuro
será aqui a Caixa Geral de Depósitos, e assim sucessivamente. Qualquer dia
ficamos aqui dependentes de Almeirim ou de Santarém", num concelho
"que já tem 100 anos", disse.
Com um aviso de registo na mão, José Francisco do Vale disse
à Lusa que vem frequentemente aos correios "levantar" cartas, porque
"normalmente não está ninguém em casa", e enviar alguma coisa que
seja precisa para a neta que está a estudar em Aveiro.
Também nunca foi ao posto de correios José Relvas, criado na
papelaria 'Prazer dos Números', e acredita que aí não há "capacidade"
para resolver "o que o pessoal quer e exige, que é levantar as reformas e
pagar a luz".
Contudo, Mónica Lagarto, proprietária da papelaria, garante
que o posto que funciona no seu estabelecimento desde meados de maio de 2017
presta "todos os serviços que o cliente possa fazer em qualquer loja dos
CTT, à exceção dos certificados de aforro e do 'Western Union' (para
transferência de dinheiro)", este apenas a aguardar "aprovações"
para abrir em breve.
"O levantamento de encomendas, de registos, de vales de
correio, as ditas pensões, entregar correio, despachar, seja nacional ou
internacional, pagamento de impostos, é possível fazer tudo aqui", frisou,
adiantando que mesmo o serviço de apartados "está a ser tratado" para
ser disponibilizado em breve.
Mónica Lagarto disse à Lusa que mensalmente é visitada para
avaliação e que tem conseguido dar resposta à procura, reforçando o atendimento
quando tal se justifica, como no início do ano escolar.
"Infelizmente, o ramo da papelaria tem vindo a cair
também e as horas de aflição não são tantas quanto isso. As pessoas vão
arranjando as alternativas para fazerem as suas compras e nós temos que também
arranjar alternativas porque temos contas a pagar também", salientou.
Para Mónica Lagarto, as pessoas podem até ficar melhor
servidas, porque o horário que pratica é mais alargado que o da estação dos
CTT, pois durante a semana encerra às 19:00 e está aberta ao sábado de manhã,
altura em que tem sido muito procurada, sobretudo para entrega de correio
registado, por pessoas que trabalham fora durante a semana.
Como alpiarcense, também ela lamenta que a vila vá perder
mais um serviço, depois do encerramento da EDP e da redução em mais de 50% do
serviço local da Segurança Social.
"Não posso também deixar de me pôr no lugar do
munícipe, como todos os outros. É uma pena", disse, salientando, contudo,
o "cuidado" da empresa em arranjar uma alternativa, o que é "um
bocadinho de louvar, porque pelo menos dentro da terra fica-se com uma
possibilidade".
Em frente à estação dos CTT, numa loja de proprietários
chineses, receia-se o efeito do encerramento, ainda sem data oficialmente
anunciada.
"Se encerrar vamos sentir a diferença, porque a maior
parte das pessoas que vêm aqui são as pessoas idosas. Não se vão deslocar
depois aqui só para virem às compras", disse à Lusa Filipa Ventura,
funcionária, salientando que muitos dos clientes são pessoas que "vão
receber as reformas, pagar as contas e depois dirigem-se" à loja.
«DN»