sábado, 2 de novembro de 2019

DUQUE DE PALMELA EM ALPIARÇA


Ribatejo Senhores da terra com velho e novo mundo

No tempo do duque de Palmela chegava-se de barco. Agora o seu tetraneto faz vinho como os australianos e algumas máquinas fazem o trabalho de muitos homens em 6000 hectares. A Lagoalva nasceu no século XVIII, sobreviveu ao PREC e hoje exporta para o mundo. Quarto de seis trabalhos sobre o meio rural português.  

A quem atravessa o Tejo depois de Santarém e sobe ao longo do rio, entra na Rota do Vinho, do Touro e dos Cavalos. O vinho vê-se logo, entre casas apalaçadas, campos onde esteve milho, grandes planuras. Touros é que nada, e cavalos idem, para já. Uns quilómetros acima de Alpiarça fica uma quinta a que se chegava de barco no tempo do 2.º duque de Palmela, há 150 anos. É por isso que a entrada de hoje, chegando de carro, parece - e é - a das traseiras. O palácio amarelo tem a melhor frente para o jardim, que ao fundo leva ao Tejo. Vem da fundação da quinta, no século XVIII, quando se dominaram as cheias com valas e diques e a terra foi cultivada. Em meados do século XIX, a propriedade passou por casamento para o duque de Palmela.
Recentemente, nos anos 90, os descendentes criaram a Sociedade Agrícola da Quinta da Lagoalva de Cima, SA, para gerir quase 6000 hectares. E o presidente da administração é o tetraneto Manuel Campilho, de 55 anos, engenheiro agrónomo com voz de trovão. Às 9h00, já vai um entra-e-sai no seu escritório adjacente ao palácio.
Por exemplo, um rapaz encorpado, mangas arregaçadas e unhas negras mostra um artigo da Visão sobre como o Quinta da Lagoalva de Cima, um branco que cruza casta Chardonnay com a ribatejana Arinto, foi servido no almoço do Tratado de Lisboa e antes já fora servido a Putin. O criador, na fotografia, é este mesmo rapaz.
- O meu filho Diogo - apresenta Manuel.
Séculos de duques, enologia em Vila Real, três anos na Austrália. Dá um herdeiro ribatejano de 27 anos a fazer vinho com o sistema do Novo Mundo no terroir do Velho Mundo. Tão tradicional que aos 15 anos se fez forcado, e tão não-tradicional que vindima à noite para evitar a oxidação do calor.
As unhas negras, já se vê, são da adega.
Pergaminhos em volta
O vinho projecta o nome e a Lagoalva também faz azeite e vinagre gourmet, e cria cavalos lusitanos.
Mas as grandes produções são floresta (cortiça, pinhal e eucalipto), cereais (milho e cevada para indústria), hortícolas (toneladas de ervilha e batata), carne de ovinos e bovinos (sem rações).
Pela genealogia, será um latifúndio (no sentido de grande propriedade rural da aristocracia). Pelo aproveitamento da terra, será o contrário de um latifúndio (no sentido de terras ao abandono). Aqui, os senhores da terra aproveitam pragmaticamente a terra - quase sem braços. Algumas máquinas substituíram muitos homens. Até a vindima é mecânica.
- Vinho, azeite, cortiça e cavalo lusitano são os produtos de excelência do mundo rural que Portugal deve produzir - diz e repete Manuel Campilho. Fala dos baixos níveis mundiais de stock de cereal e das alterações climáticas.
- Sentimos todos que há chuvas torrenciais que de repente destroem as culturas, e depois grandes calores.
Pega num Financial Times e lê sobre geadas na Argentina que deram cabo do trigo.
- E eles lá estão na Primavera. Os urbanos não têm ideia do que se passa. Acham que os agricultores são todos uns subsidiodependentes. Eu sou agricultor há 30 anos, e agora temos um ministro da Agricultura e das Pescas que não gosta nem de agricultores nem de pescadores. Responsabilizo-o claramente por ter acabado com a beterraba.
Em cujo cultivo a Lagoalva se orgulha de ser pioneira. Este ano foi o último de cultivo.
Como Manuel Campilho quis esperar pelos visitantes para o pequeno-almoço, levanta-se para enfim o ir tomar.
Na parede por cima da cadeira tem uma sequência com toureio a pé. Os sofás são de couro gasto e macio. Nas escadas há gravuras do século XIX, no átrio uma litografia do rei D. Carlos a cavalo. Lá fora, correm golden retrievers adoráveis, uma já quase cega, a beber de uma taça cheia de folhas caducas, debaixo de uma árvore. O filho de Diogo, um Manuel de sete anos, anda solto pelo terreiro.
Manuel Campilho tem seis irmãos (um deles, Miguel, também na administração, sendo que há um terceiro administrador que não é da família), três filhos (além do enólogo, duas raparigas que não trabalham aqui) e um neto. - É uma paixão - diz e repete. Sobre o neto e sobre a Lagoalva.
A ala principal do palácio é para convidados e clientes. Manuel vive numa parte lateral. Quando abre a porta, cheira a lareira. Retratos de cães e cavalos e o espólio de imagens, pratas e porcelanas de uma grande família, numa escala de pequenas salas bem aquecidas.
Outra coisa que Manuel Campilho diz e repete é que os pergaminhos não vêm ao caso. Que é administrador e não dono. Que a Lagoalva pertence a uma holding. E se fala nos Palmela é para lembrar que eram liberais.
- Sempre defendemos a liberdade e a democracia.
Os pergaminhos não vêm ao caso, mas, claro, estamos rodeados por eles, dos campos às paredes, reconhece Manuel.
- Nós somos a continuação da família.
Sempre de mangas arregaçadas, Diogo junta-se ao pequeno-almoço e põe na mesa o vinagre de vinho e o azeite das oliveiras plantadas pelo duque.
- Metade da nossa produção de vinho e azeite vai para fora, toda a Europa, EUA, Brasil, Canadá, Angola, S. Tomé...
A holding está também a fazer uma internacionalização de serviços, como aconselhamento na utilização de água ou conservação de cereais. Hungria e Angola são dois mercados possíveis para a subempresa Lagoalva Systems.
Novo mundo.
E numa volta rápida ao escritório, o administrador tem à espera um homem curvado que lhe traz uma prenda de Natal. Abraçam-se muito.
- O Gabriel é um autodidacta que sabia tudo da floresta e me ensinou. Ficámos amigos para a vida - explica Manuel Campilho, a caminho da adega. O bisavô de Gabriel já trabalhava para a Lagoalva. Agora Gabriel tem um filho na administração. E vão cinco gerações.
Velho mundo.
Ao som dos AC/DC
É uma escolha de Diogo. Da adega à cavalariça está sempre a ouvir-se música, aliás a Antena 3, neste momento AC/DC. Primeiro porque a vindima é feita de noite, e podia dar-lhes para adormecer. E depois porque sim. Dá ritmo, acha o enólogo.
Já o telemóvel de Manuel Campilho toca com trombetas de tourada.
Também presidente da Associação Portuguesa do Cavalo Puro Sangue Lusitano, a sua especialidade é atrelagem - atrelar vários cavalos ao mesmo tempo a um carro.
A esta hora, o picadeiro de treino está deserto. Nas cavalariças do século XVIII seis machos ouvem a Antena 3.
Para os campos (que apanham três concelhos, Chamusca, Golegã e Alpiarça), é preciso jipe. Primeiro as vinhas, imensas, novas. São tão diferentes dos velhos socalcos do Douro que parecem outra planta, mais alta e esguia, menos escura e retorcida. Na vindima, vem uma máquina de ambos os lados a abanar as parras e os cachos caem para um tapete. À entrada de cada fila, castas identificadas.
- Isto é cópia da Austrália - resume o administrador. - Muito mais competitivo que o Douro.
O jipe prossegue por montes de sobro. Portugal é o primeiro exportador de cortiça e não há um instituto do sobreiro, queixa-se Manuel Campilho, para a seguir ver campos que lhe arderam, e depois explicar que uma formas de combater incêndios é a descontinuidade (por exemplo, sobro, milho, sobro), ou que estes pivots de rega nos campos (uma espécie de compasso gigante, fixo num eixo) dão versatilidade. Hoje cereal, amanhã pastagem. As ovelhas até comem o restolho do milho, e limpam o mato, protegendo-o dos incêndios.
- O que é a agricultura? Utilizar com inteligência os recursos naturais. Amanhã é mais vantajoso fazer cereal? Faço cereal. É mais vantajoso carne? Faço carne. Ou vinho.
Em tendo terra, investimento - e água.
- Vocês em Lisboa não se apercebem da catástrofe que é não chover, e agora vão ver.
Depois de uma curva idílica, entre ovelhinhas e sobreiros, a grande barragem da Lagoalva parece uma poça.
- Tem 500 mil metros cúbicos e está nos 25 mil. Não tenho dúvidas de que há alterações climáticas essenciais. Aquilo que poluímos tem que ter resultados catastróficos.
De volta ao palácio são 20 quilómetros, com terra de outros pelo meio.
Durante o PREC, aqui mesmo, no Ribatejo, a maior propriedade murada do país, a Torre Bela, do duque de Lafões - avô de Diogo, sogro de Manuel Campilho -, foi alvo de uma ocupação ligada à LUAR. Depois esteve ao abandono e acabou vendida a uma empresa que usa a terra para caça e ainda não recuperou o palácio vandalizado e em ruínas.
Que aconteceu na Lagoalva na revolução?
- Nunca foi ocupada. Foi salva pelo 25 de Novembro. A estratégia comunista de ocupação era o Alentejo - diz Manuel Campilho.
Na quinta, esperam-no para o almoço de Natal os 20 trabalhadores da terra, mais os 20 do escritório. Entre velho e novo mundo, na Lagoalva - 6000 hectares - cabem todos num almoço.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

HOMENAGEM AOS BOMBEIROS DE ALPIARÇA FALECIDOS


Esta tarde, dia 1 de Novembro de 2019, realizou-se a romagem ao Cemitério de Alpiarça para prestar uma honrosa Homenagem aos Bombeiros de Alpiarça falecidos, com deposição de coroas de flores no Talhão dos Bombeiros.
«CMA»

OS "CIGANOS DE ALPIARÇA"

(*)

O "Vale da Cigana" foi durante várias gerações o espaço onde residiu  várias famílias de  ciganos.
Nos fins do século dezoito, princípios do século dezanove, o vale  era habitado por várias famílias ciganas.
Uma cigana era a "patriarca" e os terrenos onde habitava, mais os seus, era propriedade sua.
Deu à luz uma pequena comunidade de ciganos, dos quais, ainda hoje habitam em Alpiarça muitos dos  seus descendentes.
Este vale era "passagem obrigatória" e acolhimento   para outras tribos. 
A "patriarca"  era quem mandava nas várias clãs de ciganos que por ali habitavam ou que por ali passavam e era ela que dirigia os "poisos"  nestas bandas.
No inicio do século dezanove (1920/30) as redondezas  do actual "Vale da Cigana" era explorado por um grande e abastado  agricultor alpiarcense: Álvaro da Silva Simões.
Por ironias do tempo e da sociedade que se vivia na altura o "Simões" conseguiu expulsar  da proximidade dos terrenos que cultivava a "ciganada" que era  a verdadeira "dona do terreno".
Álvaro, possuidor de uma grande fortuna que lhe dava um enorme  poder e com o apoio e influência governativa da altura conseguiu expulsar dos terrenos, que nunca foram seus, quem por lá sempre viveu durante várias gerações.
(*)

Com o apoio da desgovernação da época e com o apoio de um certo conservador e de falsas testemunhas conseguir legalizar os terrenos que se situam no 'Vale" em seu nome.
Nunca mais os ciganos puderam voltar ao que seu foi.
Resta hoje aos poucos descendentes alpiarcenses da "cigana patriarca" (família Lima) viverem condignamente na Zona Alta de Alpiarça.
Não é por acaso que o Vale, que foi dos ciganos, se chama: "Vale da Cigana".
Quem quiser e tiver paciência pode consultar os registos nos meandros da Conservatória Central
(*) Fotos obtidas na Internet.

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

EVOCAÇÃO DOS 90 ANOS DO FALECIMENTO DE JOSÉ RELVAS






Com a deposição de uma coroa de flores junto ao jazigo da família Relvas, no Cemitério de Alpiarça.
«CMA»

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Reunião da Câmara de Alpiarça de 25-10-2019

HOMENAGEM/EVOCAÇÃO DO 90. º ANIVERSÁRIO DA MORTE DE JOSÉ RELVAS - 31 DE OUTUBRO DE 2019



PROGRAMA:

- Visitas Guiadas Gratuitas à Casa dos Patudos - Museu de Alpiarça (ao longo do dia).

11h30 - Romagem ao Cemitério - Deposição de Coroa de Flores no jazigo da Família Relvas.

21h30 - Concerto Musical com o Duo composto por: António Eustáquio (Guitolão) e Carlos Barretto (Contrabaixo)

Auditório da Casa dos Patudos - Museu de Alpiarça.

Entrada Gratuita.

Aceite o Convite.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

ARTIGO DE OPINIÃO: Equipa que ganha mexe-se mas pouco

Por:
Rodolfo Colhe

Equipa que ganha mexe-se mas pouco

Quando é apresentado um novo governo, independentemente de qual é o partido ou os partidos a formar governo, as críticas sucedem-se bem como a tentativa de atacar elos que possam ser à partida mais fracos, isso é da vida, escusava era de ser feito de forma ridícula.
Quem está na vida política e ainda um governante estão sempre sujeitos à crítica e na minha ótica não só não se devem esconder como devem refutar sempre que possível, nem todos os políticos podem ou devem ser kamikazes como o João Galamba mas deve-se louvar a sua capacidade de não deixar pontas soltas e a coragem de combater programas de pseudojornalismo de investigação.
A primeira crítica a este governo foi para o facto de não ser novo e de não existirem muitas mexidas, como se não tivesse sido com este elenco que o PS se tivesse tornado o partido mais votado e suficientemente votado para que seja impossível a qualquer outro partido governar, logo o argumento é ridículo. Olhar para a composição de um governo como quem olha para um onze de futebol onde a saída de um médio e a entrada de um avançado pode mudar drasticamente a qualidade da equipa é pura falta de inteligência ou decência. Por muito que alguns membros possam ter terminado a legislatura passada numa situação mais difícil, é preciso olhar para os programas, projetos e/ou reformulações em curso e que preferencialmente devem ser lideradas por quem conhece “timtim por timtim” o que está em curso desde a sua génese. Não olhemos por favor para a política como mera gestão das expectativas da opinião pública.
Depois e com uma velocidade assustadora apareceram os tais ataques aos elos que pareciam mais fracos, uma série de capas e notícias descontextualizadas sobre a nova Ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque, que inundaram as capas dos jornais e as redes sociais. Pessoalmente, fiquei muito feliz com a sua nomeação, não me assusta a sua aparente menor ligação à pasta, assustar-me-ia sim se não tivesse certezas sobre as suas competências políticas e humanas.
Depois e com a apresentação dos Secretários de Estado, o ridículo é ultrapassado por notícias que só podem ser a brincar. Como declaração de princípios eu não compro o Correio da Manhã mas leio a sua capa como a de todos os jornais diariamente e na passada quarta-feira tive de procurar ler no café um conjunto de duas notícias (é que estas grandes “obras jornalísticas” agora são artigos pagos para leitura on-line), a primeira “informa” de forma tendenciosa que o “Estado domina” e que “só três das ‘contratações’ para o Governo vêm do setor privado”, no entanto a “notícia” imediatamente abaixo destaca o facto do Secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Média, Nuno Artur Silva, ter feito vários contratos com o Estado quando era acionista da empresa que segundo o jornal Expresso “da qual saíram projetos televisivos como “Contra-Informação”, “Herman Enciclopédia”, “Gato Fedorento” ou “O Eixo do Mal” “. Só consigo tirar uma conclusão deste seguimento de notícias, os Secretários de Estado devem preferencialmente vir do privado desde que não tenham tido sucesso.
A cereja no topo do bolo das críticas ridículas vai para o maior governo de sempre que passou de 17 para 19 ministros e de 43 para 50 secretários de Estado, uma subida que não só é insignificante em termos de orçamento no que diz respeito ao vencimento dos mesmos e dos que os acompanham, como é de todo justificada pela futura presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, pelo processo de transferência de competências para os municípios e claro pela necessidade de abordar de forma acutilante o quadro comunitário que se avizinha e onde se farão sentir os efeitos do Brexit.
Deixem os homens trabalhar e depois avaliem o seu trabalho.