sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Como as terras do ministro Pedro Nuno Santos e do sindicalista Pardal Henriques se estão a preparar para a greve

Há várias maneiras de medir a distância entre São João da Madeira e Alpiarça: são 217 km, duas horas e 20 minutos a conduzir ou um terço de depósito de um carro médio. Também haverá várias maneiras de distinguir dois Pedros que têm sido protagonistas do conflito que ameaça parar o país: Pedro Pardal Henriques, advogado e vice-presidente do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas, aparece como o líder dos grevistas — e tem de tal forma adquirido visibilidade com os protestos que até vai entrar na política, como cabeça de lista em Lisboa do PDR de Marinho e Pinto para as legislativas; já Pedro Nuno Santos, o ministro das Infraestruturas e um dos negociadores preferidos de António Costa, apelou aos portugueses para se precaverem contra as consequências da greve.
Foi isso mesmo que o Observador foi tentar perceber: como é que as terras destes dois protagonistas se estão a preparar para uma eventual falta de combustíveis. Mas se em São João da Madeira existem abundantes memórias de Pedro Nuno Santos, em Alpiarça é raro encontrar quem conheça Pedro Pardal Henriques sem ser pela televisão.

“Isto é mais para o pessoal açambarcar para aí gasóleo e gasolina, como antigamente aconteceu com o açúcar”

O telefone tocou. Era o “amor lindo”. João Paulo não atendeu. Entre tickets, faturas com número de contribuinte e moedas para arrumar na gaveta do dinheiro, o funcionário desta bomba de gasolina em São João da Madeira só dispensa alguma atenção aos bitaites dos clientes sobre os benefícios de andar sempre com o depósito do carro cheio. “No princípio do mês é quando se vende mais [combustível]. Para o final do mês, as pessoas já fazem dieta nos carros e ginástica nas pernas”.
Foi no mais pequeno município português, no que à geografia diz respeito (8 km quadrados), que, há 42 anos, nasceu o ministro dos Transportes e Infraestruturas, Pedro Nuno Santos. “Bom homem”, dizem alguns na terra. Cedo se prestou aos jogos da política. Há mais de cinco meses que tem negociado a cessação da greve com os motoristas de matérias perigosas e há menos de um que, na iminência de a mediação falhar, aconselhou os portugueses a precaverem-se.
João Paulo: "Para o final do mês, as pessoas já fazem dieta nos carros e ginástica nas pernas”. (JOANA ASCENSÃO/OBSERVADOR)
O gasóleo não deve acabar tão cedo. Pelo menos estas são as contas do funcionário do posto, que não teme um “novo abril de 2019”. Durante a primeira greve destes profissionais, “faltou o gasóleo em todas as bombas” – e tiveram de deixar de abastecer. Mas o problema maior foi quando acabou: “Ainda estivemos quase uma semana à espera do gasóleo”.
João Paulo não vai em alarmismos e a despreocupação condiz com o resto da cidade. Na empresa Humberpeças, de peças para automóveis, Pedro Moura, diretor de marketing, vê a hipótese de ter de parar como um cenário “um bocado assustador”: 70% das entregas são distribuídas pela própria empresa, com cerca de 14 carros e 27 motas. E aqui, as memórias da paralisação de abril também parecem assombrar. “Estamos preocupados porque pode haver outra vez uma correria aos combustíveis, por precaução. Seria desagradável motas com depósitos de apenas 10 litros, obrigadas às vezes a ser atestadas duas vezes ao dia, terem de estar paradas mais de uma hora nas filas.”

Pedro Moura é o diretor de marketing da Humberpeças, que já sentiu os efeitos da greve de abril. (JOANA ASCENSÃO/OBSERVADOR)
É por isso que a empresa, presente na cidade há 32 anos e com cerca de 90 funcionários, tenciona atestar todos os veículos, apesar de ser “prática comum” e pondera “colocar na oficina alguns depósitos pequenos com gasolina, em “quantidades não exorbitantes”, de forma a evitar as filas.
Da zona industrial ao centro são menos de cinco minutos de carro. O céu cinzento e os chuviscos envergonhados em pleno agosto não desmontam a simpatia dos são-joanenses, considerados em 2010 os habitantes mais felizes do país. Mas quando se fala em greve dos motoristas de matérias perigosas, arregalam os olhos e preveem caso bicudo. Numa das ruas que desaguam na praça Luís Ribeiro há uma escola de condução, também de nome Ribeiro.
Quando entrámos não sabíamos que tinha sido ali que Pedro Nuno Santos tirou a carta, quando atingiu a maioridade. Mas Conceição Leite, de voz grave e altiva, conhece bem o ministro e não é só pelo jeito com o carro. “Desde pequenino” que a aptidão para a política era genuína e “se notava na forma de falar”.
Conceição, além de administrativa na escola, também é secretária na mesa da assembleia da junta da única freguesia da cidade, que herdou o mesmo nome. A cor política não é a mesma da do ministro, mas está com ele quando se fala da greve que pode fazer faltar o combustível nos tanques como o de João Paulo: “Não quero com isto dizer que os motoristas não têm razão, mas as greves não são boas para ninguém e era bom que não houvesse greve”.
A seguir surge-lhe uma questão: “Acha que vai mesmo haver?” E se houver? “Se houver e se durar muitos dias, quando os carros não tiverem mais combustível, teremos de parar”. É assim porque o negócio depende diretamente de os carros terem os depósitos preenchidos. Com quatro instrutores e oito a nove aulas por dia para cada um, o depósito de um carro dura ali apenas dois a três dias. O mês não ajuda. Agosto é bom para o ofício, “porque apanha as férias dos candidatos”. A escola Ribeiro vai abastecer os carros de instrução esta sexta-feira, mas ali mantém-se a esperança de que a greve não vá avante.
Conceição Leite: Em abril a greve “não no afetou porque também durou poucos dias”
Do lado oposto da praça e da barricada está a principal indústria da cidade; ou a cara que nos fala dela. Camisa semi abotoada e sorriso de quem faz as malas para férias, Tiago faz representar as empresas de sapatos e chapéus. “É uma indústria muito assente aqui em S. João da Madeira”. Apesar de em abril ter saído prejudicado pelas horas na filas para combustíveis, “porque tempo é dinheiro”, agora em agosto Tiago não acha “a falta de gasóleo um fator determinante e preocupante para o setor do calçado porque as empresas encerram nesta altura do ano”. A Footure, empresa de peças para calçado que gere, faz a pausa anual no final desta semana. Apesar disso, Tiago vai precaver-se, enchendo “o depósito na sexta-feira” e tendo “uma reserva de 20 litros de gasóleo”. Depois, vai de férias e só reabre o estabelecimento em setembro.
Mas antes de nos deixar ir ver o corte de cabelo do outro Tiago desta história, confessa com cara séria que só no início do ano percebeu quão “importantíssimo este tipo de transporte de mercadorias” era, capaz de “parar o país”. E acautela que “por ninguém acreditar que isto poderia acontecer é que aconteceu.”
Têm a mesma idade, os Tiagos, 28 anos. O Fernandes, sentado na poltrona de pele preta do André Cabeleireiro, também se prepara para as férias. Corta o cabelo e atesta o carro, apesar de ter “mais de meio depósito”, que, garante, dá para chegar a Braga. Já em Braga, a mira é apontada às gasolineiras espanholas, mais baratas e livres de greves.
“Em abril foi complicado arranjar combustível. Quando lá cheguei, foi mesmo à queima. houve quem já não conseguisse abastecer. Eu precavi-me e fui abastecer antes de chegar esta altura das férias e de a situação da greve avançar.”

André é, afinal, António Marques. Toda a gente o trata por André Cabeleireiro. (JOANA ASCENSÃO/OBSERVADOR)
André ouve. Afinal, cabe-lhe também parte do tempo ouvir, ao som de fundo da máquina de corte e da televisão, que já relata a falta de combustível em alguns postos de abastecimento. Desvaloriza. Ali dentro “não tem havido muita preocupação em relação à greve”.
“Sabe que tenho aqui um cliente especial?” Tem? “O senhor Ministro-dos-Transportes-e-das-Infraestruturas”. E logo saca do telemóvel para comprovar.

Ministro Pedro Nuno Santos é "cliente habitual" de André. (JOANA ASCENSÃO/OBSERVADOR)
“Conheço-o desde bebé e para mim, sempre foi político. Quando era jovem, quando começou na JS, notava-se”. Talvez pela proximidade em relação ao governante, André considera tudo escusado: “Isto é uma guerra entre a ANTRAM e o Sindicato lá dos motoristas de matérias perigosas”. Ainda acredita, no entanto, no poder de negociação do governo para impedir que esta greve tenha o mesmo impacto da anterior. “O governo devia pegar em todas as forças de segurança e pô-las a transportar os camiões para abastecer tudo o que seja necessário, para o país não parar”.

Da praça ao posto onde o gasóleo acabou

Zeferino tinha mais de meio depósito e nem estava a contar, mas deu-nos boleia estrada fora. “Vim atestar para ir por aí abaixo e não ter problemas.” Mas tem medo? “Pois tenho. Se não tiver gasóleo, vou a pé?” Joga o Porto no fundo do rádio e, assim como vira o jogo, virou a conversa do são-joanense de 68 anos: “Eu nem era para abastecer porque isto é só bluff, não vai dar em nada. Isto é mais para o pessoal açambarcar para aí gasóleo e gasolina, como antigamente aconteceu com o açúcar.”
Abastecido, o Opel Astra de 95 segue viagem e espera que a greve dure só um dia ou dois: “Mais que isso não. Deus me livre, o país parava!”. E logo acima uns metros, numas das gasolineiras low cost da cidade, a fila ao final da tarde já é evidente. Catorze carros norteiam-se por quatro postos de combustível. Entre os “quer fatura?”, os “obrigada” e a ligeireza a carregar em botões, a técnica que recebe aos pagamentos justifica: “Vai haver greve e o pessoal já está a abastecer”. Para ela, o dia já vai tão comprido quanto o rabo de cavalo e ainda são sete da tarde. Muitos carros que sobem a rampa rapidamente dão meia volta e desistem da espera. Outros arriscam usar jerricãs. “Ainda um há bocado”, diz-nos, envolta em matrículas quase tanto quanto em números de contribuinte.
Uma hora passada, os tanques do gasóleo esvaziaram. “Normalmente duram três a quatro dias e nunca chegam à reserva, mas desde o início da semana que a afluência tem sido maior”. No momento de pagar os 2 euros e 80 cêntimos que os tanques permitiram abastecer, um cliente com o combustível do carro na reserva pergunta, preocupado: “O camião vem amanhã cedo, não vem?”.

“Palmilhei Alpiarça de lés-a-lés e nunca me cruzei com essa personagem”

Já Pedro Pardal Henriques, o líder desta – e da anterior – greve dos motoristas, nasceu na vila de Alpiarça em 1978, mas o rosto do advogado sindicalista só é visto na terra através das televisões. Na vila ribatejana há muito poucas memórias do vice-presidente e porta-voz do Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas, que saiu de Alpiarça antes de entrar sequer na escola.
Ainda assim, e sem qualquer sentido de afinidade, as críticas ao líder sindical somam-se entre os vários setores ouvidos durante o dia em que o Observador passou em Alpiarça – e na região –, para saber como é que os habitantes, os empresários e a própria Câmara Municipal se estão a preparar para a greve dos motoristas de matérias perigosas.
Primeira paragem: posto de gasolina na Estrada Nacional 118. Jacinto Martins Nunes é dono de uma das bombas de combustível da estrada que atravessa toda a vila de Alpiarça e que há cinco meses se deixou surpreender pela paralisação dos motoristas. Desta vez, diz estar “mais precavido”, mas acrescenta: “Se começar a faltar numa e depois noutra, começa logo a corrida às bombas onde ainda existe combustível. Aqui tem-se vendido mais qualquer coisa”.
Jacinto Nunes é dono de uma das bombas de combustível de Alpiarça e há cinco meses deixou-se surpreender pela paralisação dos motoristas agora diz estar “mais prevenido". (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)
O empresário lamenta a greve sobretudo pelas dificuldades que coloca na gestão dos stocks. “O meu posto tem capacidade para 68 mil litros, mas nunca está na capacidade máxima porque isso exige muito capital e as oscilações do mercado não me permitem saber se depois vou vender isto mais barato ou mais caro”, diz Jacinto Nunes, que detém um dos postos que não integra a Rede de Emergência de Postos de Abastecimento.
Numa vila que depende sobretudo do trabalho agrícola, a pressão sobre as necessidades de abastecimento aumentam de nível. Com parte das campanhas agrícolas no seu auge e uma outra parte prestes a começar, Jacinto Nunes reconhece que “o risco maior é para a agricultura. Esta é a pior fase. Os produtos continuam a ser produzidos, a ser apanhados, mas as transportadoras não têm capacidade para os escoar”.
Apesar do risco, o empresário mantém-se cético quanto à paralisação e quanto aos efeitos. “Têm aparecido algumas pessoas com jerricans. Mas é como nos supermercados: quem tem mais fundo de maneio vai-se precavendo. Eu não fiz isso. Estas greves já existiram no passado, agora é que estamos a tomar medidas, mas que medidas? É que com os piquetes de greve, as pessoas que estão a ser formadas para manobrar os camiões podem ter dificuldades. Esse é o maior problema”.
Quem o está já a sentir na pele é Luísa Paciência, a gerente e engenheira agrónoma da Casa Agrícola Paciência. “No transporte dos produtos já sentimos alguns constrangimentos porque com as notícias da greve os nossos clientes reforçaram as encomendas e temos tido uma semana com o dobro do movimento habitual. Se é bom, se é mau, não sei, porque começa a faltar capacidade de resposta e com o movimento muito elevado, nos entrepostos de destino, há encomendas que são devolvidas por falta de capacidade desses entrepostos — da SONAE, Pingo Doce, etc”.
Luísa Paciência é a gerente e engenheira agrónoma da casa agrícola fundada pelo avô há mais de 100 anos e que tem no vinho a sua principal missão. (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)
Luísa Paciência é a gerente e engenheira agrónoma da casa agrícola fundada pelo avô há mais de 100 anos e que tem no vinho a sua principal missão. Ao Observador, conta que a dependência de combustíveis existe em toda a cadeia de funcionamento da empresa: “Dependemos de combustível para o funcionamento de toda a parte agrícola e depois na parte da transformação é necessário para alguns equipamentos, (…) e depois a parte da distribuição. A transportadora que faz a recolha para entrega aos nossos clientes também está dependente desta questão dos combustíveis”.
Apesar de planear começar a vindima durante a próxima semana (apanhando assim o pico da greve, caso se mantenha), Luísa Paciência explica que a casa agrícola tem reservas para “15 dias ou três semanas” e esta quinta-feira dedicou uma parte do dia a abastecer todas as viaturas necessárias para o trabalho diário, mas não esquece que há cinco meses foi encher alguns jerricans para garantir as entregas locais, e acabou por nem os utilizar.
Quem também encheu os depósitos há cinco meses foi Rui Aniceto, empresário agrícola que lidera a Triplanta, e que integra a Hortofruticolas Campelos, uma organização que representa 60 produtores de legumes, frutas e flores que juntos têm a seu cargo mais de quatro mil hectares.
Para esta greve não levámos as coisas a sério porque achámos que isto era tudo um bluff das pessoas que estão à frente dos sindicatos, mas estamos a ver o caso agora um pouco mais sério”, confessa Rui Aniceto, acrescentando que atualmente os produtores que representa não têm “em reserva o combustível necessário”. “Alguns dependem de empresas contratadas, que lhes estão a dizer que não vão fazer greve mas que podem não ter combustível. Sempre pensámos que fosse desmarcado mais cedo, mas pelo menos o fator cagaço já conseguiram”, lamenta o empresário.
“Na agricultura a gestão é mais difícil porque os produtos depois de estarem prontos no campo ou vão para o supermercado ou então estragam-se. Depois de estarem prontos duram 48h. Mais que isto, as pessoas andaram a trabalhar o ano todo para perder tudo”, explica ao Observador. A gestão nos produtos frescos – como o tomate ou a alface – é mais complicada do que por exemplo no vinho, como já tinha adiantado Luísa Paciência. “No setor do vinho, uma encomenda que não é entregue hoje pode ser entregue para a semana. Agora, nos produtos frescos essa gestão é diária” e quando um dia falha, o prejuízo começa a acumular-se.
Quem também encheu os depósitos há cinco meses foi Rui Aniceto, empresário agrícola que lidera a Triplanta. (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)
O empresário da Triplanta ainda tentou fazer uma encomenda de combustível de última hora, mas já foi informado de que não vai ser possível ser entregue até segunda-feira (o dia marcado para o inicio da paralisação). “Tenho depósitos homologados para 6 mil litros, mas neste momento só tenho 2 mil e sem me conseguirem entregar vai ser difícil. No máximo tenho combustível para trabalhar até terça ou quarta-feira”, diz Rui Aniceto, deixando mais reclamações sobre uma greve que considera “não ter fundamento. Há falta de motoristas, isto é mais o protagonismo das pessoas que estão a liderar os sindicatos do que propriamente os trabalhadores. Estive com motoristas que não querem fazer greve, consideram que o que ganham é justo”.
As críticas são lançadas a Pedro Pardal Henriques por conterrâneos que desconhecem que foi ali nasceu o agora líder sindical. O desconhecimento sobre Pardal Henriques é alias tónica dominante entre toda a população de Alpiarça. Ao que o Observador apurou o advogado nasceu na vila mas a família mudou-se para o Algarve ainda antes de Pedro Pardal Henriques ter entrado na escola. O advogado poderá ter alguma família afastada ainda em Alpiarça mas, por nunca ter frequentado a escola, não é conhecido entre os que partilham a sua geração.
Um ex-candidato à Câmara Municipal de Alpiarça diz mesmo: “Apesar de ter palmilhado Alpiarça de lés-a-lés em campanhas eleitorais, nunca me cruzei com semelhante pessoa”.
De volta à greve, antes de terminar a conversa com o Observador, Rui Aniceto tem ainda tempo para contar que já foi contactado por uma transportadora espanhola que lhe pediu para adiar entregas, com receio dos piquetes de greve: “Existe medo de represálias por parte dos motoristas estrangeiros, especialmente nalguns pontos mais sensíveis do pais”.
O empresário agrícola lamenta que a agricultura não tenha sido tida em conta na lista de prioridades definida em primeiro lugar – essa situação já foi agora corrigida pelo Governo – e lamenta que o país “se esqueça de quem os alimenta”, acrescentando que “é preciso pensar como um todo. As coisas só funcionam se todos contribuirmos e esta é uma fatura que podemos vir a pagar mais tarde”.
Embora não podendo ser opção de recurso para os empresários que precisam de combustível para manter a atividade, a Câmara de Alpiarça também não deixou de se precaver tendo em conta este pré-aviso de greve – e a própria recomendação do Governo. Ao Observador, a autarquia revelou que tem quatro mil litros em depósito, “o que num mês de Agosto, com muito do pessoal em férias, garante um mês de funcionamento dos serviços municipais”, tendo mil litros destinados aos Bombeiros Municipais e outros mil aos serviços de Proteção Civil. A autarquia recorda ainda que é obrigatório um dos postos de abastecimento do município garantir uma reserva de mil litros para os bombeiros.

Pedro Miguel Ribeiro é presidente da autarquia do concelho vizinho, Almeirim e líder da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo
Numa região fortemente dependente da agricultura, a Comunidade Intermunicipal da Leziria do Tejo (CIMLT) lançou um alerta ao Governo para não esquecer o abastecimento dos que fazem desta a sua atividade. Ao Observador, o presidente da CIMLT, que abrange Alpiarça e outros dez concelhos, Pedro Miguel Ribeiro, garante que “a definição de serviços mínimos já resolveu uma parte do problema, sendo que o gasóleo agrícola é importante, mas falta perceber os mínimos impostos para os consumos, visto que as máquinas agrícolas não consomem na mesma quantidade que um carro particular”. O dirigente espera que o número de pessoas que não vão aderir à paralisação possa “ter influência naquilo que é o abastecimento que vai existir durante o período de greve”.
Pedro Miguel Ribeiro, eleito presidente da autarquia do concelho vizinho – Almeirim – pelo Partido Socialista, diz que “a greve pode acabar antes de começar desde que haja uma saída airosa para todos. Não sei se é possível para já, porque as posições se têm vindo a extremar”. Para o autarca e líder da CIMLT, “o governo fez aquilo que deve fazer, preveniu como podia prevenir, agora é preciso encontrarmos a porta de saída. Isto é um pouco como nas eleições: é preciso encontrar uma forma de todos dizerem que ganharam. Eu acho que é isto que falta”.
Enquanto o pré-aviso se mantém, e tendo em conta que a terra natal de Pedro Pardal Henriques não tem um único posto dentro da Rede de Emergência, Jacinto Nunes, o dono de um posto de abastecimento, sabe o que o espera: “Aqui, quando esgotar, esgotou. Se não mandarem mais não mandam”.

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