domingo, 28 de agosto de 2016

Catarina arrependida ou teatro político?


 O dicionário diz que coerência é a "capacidade de apresentar um comportamento constante e um modo de pensar uniforme ou estável". Catarina Martins (foto) líder do Bloco de Esquerda, formada em Línguas e Literaturas Modernas, domina bem o dicionário. E por isso sofre. Foi a própria que admitiu em entrevista ao Público que todos os dias se arrepende de ter entrado para o barco da governação, rematando, ainda assim, que tal arrependimento faz parte. Obviamente que a direita e a esquerda lhe caíram em cima porque a sinceridade está para a maioria dos discursos políticos como um congelador para o deserto.Não se aguenta.
Catarina não tem o dom da ubiquidade. Não consegue, por isso, estar em vários locais (ideológicos) ao mesmo tempo. Apesar de tudo, tenta honrar as linhas mestras do discurso do Bloco e combater dentro da "geringonça" os ataques que vão contra essas mesmas linhas. Não se pode ser a favor dos trabalhadores e agir contra os trabalhadores (por exemplo no congelamento de salários da Função Pública), nem defender a transparência e depois engolir uma tentativa de alteração da lei que vai facilitar a opacidade – sim, estamos a falar da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e da manobra perigosa com que o Governo se prepara para driblar o chumbo do BCE a oito membros da nova administração do banco público, alegadamente devido à acumulação de cargos que lhes parecem excessivos e incompatíveis. E a muitos de nós também, não?
Catarina Martins e o Bloco não se coíbem de criticar o regime político de Angola. É natural, por isso, que o BE seja o único partido que não enviou nenhum representante ao congresso do MPLA. Até aqui, tudo em ordem. A questão é que se não estivesse dentro da "geringonça", o Bloco teria dedicado muitos minutos a criticar aquilo que definiria como mais uma amostra da subserviência transversal que mina a política portuguesa. Tem razão, pelo menos na transversalidade – lá foram todos a Luanda, do CDS ao PCP. O povo diz que quem cala consente. Catarina não dorme bem com estes consentimentos, é isso? E se assim for, até quando aguentará a insónia? 
O que seria se o Bloco não estivesse ao lado de António Costa e aparecesse um "petisco" da dimensão do caso "secretário de Estado dos Assuntos Fiscais vai à bola pago pela Galp"? O rol de questões fracturantes entre o BE e o PS poderia continuar por este texto abaixo, com uma referência obrigatória à restruturação da dívida pública, tema que, como Catarina reforça na entrevista ao Público, lhe parece tão determinante como o ar que respira. Por isso Catarina respira mal. E dorme mal. E arrepende-se. Teve a veleidade de o dizer em público. Vamos ver que preço paga ela, e pagamos nós, por esta fraqueza política, digamos assim. Ou será que não há aqui fraqueza nenhuma? Catarina também é actriz. 
Legítima defesa o quê?
 Eram dois contra um, ou melhor, três, se contarmos com o carro que terá atropelado o jovem de 15 anos de Ponte de Sor, que esteve em coma induzido no hospital de Santa Maria até segunda-feira, alegadamente espancado pelos filhos do embaixador do Iraque em Portugal. Venha o dicionário, desta vez o da lei, vulgo Código Civil: "Considera-se justificado o acto destinado a afastar qualquer agressão actual e contrária à lei contra a pessoa ou património do agente ou de terceiro, desde que não seja possível fazê-lo pelos meios normais e o prejuízo causado pelo acto não seja manifestamente superior ao que pode resultar da agressão." Rúben Cavaco está desfigurado.Nas imagens da entrevista que os filhos do embaixador do Iraque deram à SIC parece que nenhum deles sofreu um arranhão. Sobre proporção o assunto está encerrado, em matéria de justiça espera-se que não
«De: Dulce  Garcia/'Sábado')

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