segunda-feira, 20 de agosto de 2018

ARTIGO DE OPINIÃO: Serviço Militar obrigatório? Não me parece

Por:
Rodolfo Colhe



Serviço Militar obrigatório? Não me parece


Numa sociedade onde a informação e desinformação circulam a uma velocidade muitas vezes superior àquela que o receptor tem capacidade para analisar friamente, a prudência deve ser uma das mais importantes características dos nossos governantes. Muitas vezes temas fraturantes da sociedade são lançados para a discussão exatamente porque está na altura de os discutir, porque há necessidade de apalpar terreno e para medir as sensibilidades, outras vezes são erros políticos acidentalmente provocados por uma qualquer razão ou provocados por uma qualquer “força” ou tendência que quer colocar o tema na ordem do dia.
Prefiro neste momento acreditar que as declarações do Ministro da Defesa Nacional Azeredo Lopes foram fruto do erro politico acidental ou provocadas por alguma “força” não querendo crer que o regresso do Serviço Militar Obrigatório (SMO) pelo menos como o conhecemos possa estar em cima da mesa. Antes de dar concretamente a minha opinião digo desde já que o tema é bastante mais complexo do que possa parecer e que gostava até de ver fundamentadas as razões desta possível possibilidade, e aí talvez pudesse eu próprio pelo menos suavizar a minha opinião.
Para mim como já é visível não faz o mínimo sentido falar no regresso do SMO, se a ideia é falar nele da forma como foi aplicado anteriormente, pela informação que tenho seria sem dúvida um erro com consequências graves a vários níveis completamente destintos, erros esses que iriam ser nocivos também para as próprias forças armadas. Nunca fui militar, limitei-me por obrigação legal a participar no dia da Defesa Nacional, mas em determinado momento da minha vida cheguei a olhar para a vida militar como uma hipótese para a minha vida, tendo posteriormente percebido que nunca me enquadraria e que não seria nem de perto nem de longe bom para o meu país, tenho, pois, pelas forças armadas o respeito que elas merecem apesar das minhas dúvidas sobre o seu funcionamento que guardo para mim por falta de conhecimento. Mas voltando atrás na conversa seria positivo para as forças armadas verem-se entupidas de jovens que não querem estar ali? Que não querem seguir aquela carreira e que sentem que lhes estão a dificultar o acesso a carreira que escolheram? Ficariam as forças armadas valorizadas com o regresso do SMO quando parte dos seus quadros já não tem uma forte ligação emocional as sua funções? Duvido muito.
O regresso do SMO não iria de todo ser favorável ao aumento do número de estudantes do ensino superior nem a progressão dessa carreira académica num momento em que o mercado se começa a abrir aos jovens licenciados e mestres muitas vezes em áreas que estão em elevado desenvolvimento no nosso país, e os jovens que optam pelo ensino profissional que através dele conseguem iniciar uma carreira, deveriam interrompe-la para cumprir SMO?
Todos estes possíveis atrasos no projeto de vida não iriam também ser nocivas no combate a baixa taxa de natalidade de Portugal?
Outra questão que me salta rapidamente a vista é a questão financeira, não seria também um aumento enorme da despesa com os mancebos a cumprir o SMO, alguns dos quais poderiam já estar a descontar sobre o seu vencimento e com um poder de compra superior o que lhes possibilitaria contribuir mais para o país.
Nem tudo a volta do SMO nem todas as posições são descabidas, posso concordar com Manuel Alegre (alguém de quem muitas vezes discordo, mas que não deixo de admirar) quando diz que “os jovens têm direitos, mas também têm deveres de cidadania” já discordo quando diz que “cumprir o SMO é um deles”, ou pelo menos tenho muitas dúvidas que seja o mais importante dever de cidadania, ou que não haja muitas formas de exercer a cidadania, eu sinto que o faço na minha ação política e enquanto ser humano.
Acho que o tema merece uma discussão, mas tendo logo como ponto partida que nunca poderia ter moldes sequer semelhantes aos que anteriormente eram utilizados.
Apesar das críticas é um tema que deixa sempre dúvidas, e onde é possível que uma boa clarificação possa levar os jovens a formar uma opinião concreta.
Uma palavra de força para a JS pela forma pronta como se pronunciou sobre o tema e teve capacidade de se fazer ouvir, quando todas as outras juventudes optam pelo silêncio.  

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