segunda-feira, 8 de abril de 2019

ARTIGO DE OPINIÃO: Famílias na vida política

Por:
Rodolfo Colhe

Famílias na vida política

Como é sabido da esmagadora maioria das pessoas que leem o que eu escrevo, o meu avô foi um reputado militante do PCP, reputado líder da classe operaria quando não era para todos, o meu pai um crónico possível candidato durante vários anos e em 2013 candidato a vereador, é este o mote para o meu artigo.

Dos muitos perigos que a democracia enfrenta, a demagogia e a tentativa de destruir o sistema político ou de pelo menos torná-lo o mais anárquico possível é dos mais perigosos, certamente isso serviria muito bem a vários interesses de vários interessados na falta de regulação.

Nas últimas semanas assistimos a um ataque quase sem precedentes, e só é quase porque já em 1992 o jornal “O Independente” dava conta das mulheres de ministros que ocupavam lugares de nomeação durante os mandatos de Aníbal Cavaco Silva, o mesmo senhor que hoje acha a prática “indecorosa”. Mais uma vez calado seria um poeta. (https://poligrafo.sapo.pt/politica/artigos/familygate-governo-de-cavaco-silva-tinha-15-mulheres-de-ministros-e-de-secretarios-de-estado)

Há que assumir algo muito concreto, os lugares de confiança política são exatamente aquilo que o nome diz, não são tachos para tios, primos, netos ou mulheres são locais onde os governantes querem pessoas em quem podem confiar vivamente tanto do ponto de vista técnico, como ideológico e da não divulgação de informação entre outros, e esses lugares podem ser ocupados por tios, primos, netos ou mulheres de algum outro governante se reunirem esses requisitos.

Há uma informação da qual talvez nem todas as pessoas estejam cientes, a subida na hierarquia política é tramada, são muitas horas, muitas noites sem dormir, muitas viagens e muito sapos engolidos e isso leva a que muitas relações comecem nas juventudes partidárias enquanto um vai puxando pelo outro até que um dia um chega lá e o cônjuge perde a sua oportunidade de estar na linha da frente restando-lhe o trabalho de bastidores, e olhem que nem sempre é o melhor que lá chega. Tal como muitas médicas casam com médicos, muitas atrizes com atores muitas políticas casam com políticos
.
A discussão que tem acontecido é pura demagogia sem interesse para a sociedade e muito menos para a democracia, a questão é outra, porque é tão difícil crescer dentro dos partidos? Porque estão os partidos tão fechados?
Essas questões devem sim ser respondidas para bem de uma mudança de paradigma que se impõem a bem dos princípios de abril. Estou certo que um dos principais passos será a intensificação do sentido de cidadania, mostrar o que seria o mundo sem políticos e políticas de ação, mostrar que isto de andar na política não é nenhum bicho-de-sete-cabeças.

Voltando ao meu mote inicial deixo algumas questões, tenho eu menos legitimidade por o meu avô e pai serem reconhecidos pela sua atividade política? Se o meu avô tem exercido um cargo de Vereador ou Presidente de Câmara e têm nomeado o meu pai para um cargo de chefia (que ainda hoje é a sua carreira profissional sem que o seu pai tivesse feito por isso) ou de confiança política (que exerceu sem ajuda do seu pai) teria sido assim tão errado? E se um dia eu exercer um cargo de Vereador ou Presidente de Câmara e optar por colocar o meu pai como chefia ou em nomeá-lo, isso estaria assim tão errado? A maioria penso que responderia não a todas as questões pois conheciam o meu avô e conhecem o meu pai, então por favor não façam um raciocínio diferente só por não conhecerem as pessoas.

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