segunda-feira, 28 de agosto de 2017

ARTIGO DE OPINIÃO: Bons ventos de mudanças e outros que nem por isso

Por:
Rodolfo Colhe
Presidente da Juventude Socialista de
Alpiarça


Tenho muita vontade que chegue setembro, uma vez que agosto tem sido um mês de muitos acontecimentos negativos, mas eis que uma lufada de ar fresco nos chegou durante esta semana e falo, como deveria ser óbvio, da entrevista da Secretária de Estado da Modernização Administrativa, Graça Fonseca. E antes de falar da entrevista em si, é interessante recordar a vinda desta senhora a Alpiarça, onde exibiu um grau de proximidade com as pessoas fantástico. Demonstrou estar preocupada com o porquê das coisas e com a parte operacional de tudo e muito menos interesse com o protocolo. Mas falando da entrevista e do ponto que ressaltou à vista de todos, o facto de ter assumido a sua homossexualidade, e começo por dizer que cada vez mais me sinto feliz com este governo que possui pessoas como a camarada Graça Fonseca. Não só achei fantástica a revelação como achei de uma frontalidade fenomenal o facto de ter assumido que a opção era política. De facto, não só com alterações de leis se muda o mundo, é necessário também alterar a mentalidades através dos comportamentos e como sempre a iniciativa deve vir de cima como foi este o caso, e como também, infelizmente, ainda é normal de cima também vêm péssimos exemplos como foi o caso das declarações do vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, Carlos Abreu Amorim, que não só desvalorizou a situação como ainda tentou colocar em causa o trabalho político da Secretária de Estado. É certo que a maioria sabe que pessoas como este indivíduo raramente pensam o que dizem, mas convínhamos que basta fixarmo-nos no Simplex para concluirmos que trabalho e temas para abordar não faltariam à Secretária de Estado. As minhas palavras pouco ou nenhum valor têm, mas da minha parte muitos parabéns, que atos como este ajudem pelo menos a reduzir o número de pessoas que sofre por ter uma opção sexual que não é a da maioria e que essas pessoas deixem de ter de se desviar dos obstáculos que essa opção ainda hoje lhes cria.

Ao contrário da notícia acima abordada, nos últimos dias também se iniciou uma forte discussão sobre os manuais de exercícios da Porto Editora que produz um livro para meninos e outro para meninas. A situação a mim que já trabalhei com esta faixa etária (4 aos 6 anos) causa-me algum incômodo e parece-me que a opção é de todo disparatada, mas a minha opinião sobre editoras e principalmente sobre manuais escolares é no mínimo muito própria e muito controversa, mas voltando ao tema e por muito que alguns não queiram admitir não se justifica determinadas situações presentes naquele livro. Se a opção tivesse sido por dois livros idênticos um azul para meninos, outra rosa para meninas, eu percebia a finalidade comercial apesar de não fazer para mim muito sentido uma vez que estou  a escrever este artigo com uma camisa rosa vestida e  a última grande princesa da animação usava um vestido azul (aos mais desatentos falo da princesa Elsa do filme Frozen, já não é assim tão recente, eu sei). Para mim, e daquilo que li para além da diferença no grau de dificuldades dos exercícios, o mais grave são os estereótipos altamente desatualizados e sexistas onde os meninos estão a mexer em robôs e as meninas a preparar o lanche ou num outro exercício em que para as meninas aparecem alimentos e para os meninos aparecem árvores, baldes e pás. Se aos 4 anos estamos a tentar já delimitar as opções das crianças e a indicar-lhes o caminho que devem seguir, estamos completamente a matar-lhes a progressão e a formata-las, em pleno século XXI ainda formatarmos ao invés de formarmos, é de todo um crime civilizacional. No entanto, é das escolas e de dentro das próprias casas de habitação que se deve travar esses princípios errados, e já agora de preferência não comprando livros destes. Não acho que devamos fazer uma escandaleira com este tema nem com outros similares porque muitas vezes acabamos por descredibilizar a temática e pessoas com vontade de descredibilizar as questões da igualdade de género já são muitas. Não pintemos um cenário ainda mais negro do que ele é, no entanto não deixemos que ele seja pintado demasiado azul.

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