quarta-feira, 1 de março de 2017

ALPIARÇA E OS “ESTRANGEIROS”

Por: Fernando Louro

Continuando a minha história de se gostar da nossa terra ou não se gostar, vou agora referir-me aos “migrantes”, aos “estrangeiros”, ou melhor, aqueles que não tendo nascido em Alpiarça, vieram para cá morar, até pela polémica que recentemente se desenvolveu sobre este tema.
Alpiarça sempre foi uma terra acolhedora e não é por acaso que se diz que “Alpiarça é má mãe, mas boa madrasta”.
Vale o que vale, é uma frase popular, que no fundo apenas quer mostrar quanto bem Alpiarça e os Alpiarcenses recebem aqueles que para cá vêm morar.
Por outro lado, e em retorno do bom acolhimento, quero dizer que esses “estrangeiros” que para cá têm vindo viver, na sua generalidade, têm sabido integrar-se na nossa terra, têm sabido amar Alpiarça, e muito daquilo que a nossa terra hoje é, deve-se também muito a eles.
Começo por mencionar o maior de todos, José Relvas, natural da Golegã, veio para cá morar, assumiu-se como Alpiarcense, fez de Alpiarça um concelho e doou por testamento o seu vasto e valioso património à nossa terra e ao seu povo. Sem mais palavras.
Não sou historiador e eventualmente muitos outros haveria a mencionar.
Mas não quero deixar de referir três senhoras, a Dª Adília, a Dª Berta e a Dª Helena, todas “estrangeiras” que vieram para Alpiarça nos anos 50, com um sonho, e criaram um colégio, o Externato S.Paulo, com um edifício construído de raiz, que foi uma referência na região durante duas décadas, e que permitiu que muitos Alpiarcenses e não só, pudessem ter tido acesso aos estudos.
Também não posso deixar de mencionar a colónia dos Avieiros, que para cá vieram, instalaram-se, com novos costumes, e cuja descendência por cá vive, sentindo-se como autênticos Alpiarcenses que de facto são.
Também não posso esquecer, que na época gloriosa do ciclismo dos Águias, muitos dos atletas que ajudaram a espalhar o nome de Alpiarça pelas estradas de todo o país também eram “estrangeiros”, refiro o António Pisco, o José Manuel Marques, o João Brito, entre outros.
Nos dias de hoje, muitos outros haveria a mencionar, verdadeiros Alpiarcenses, que amam Alpiarça, embora tivessem nascido noutro lugar.
Que amam Alpiarça e que mostram respeito pelas suas gentes e pela sua história.
E nada impede que se possa ter dois ou mais amores. Na vida tudo é feito com uma pluralidade de afetos.
Podemos amar a terra onde decidimos morar, onde decidimos viver, a terra que por opção, decidimos tornar as raízes dos nossos filhos.
Sem que para isso tenhamos de deixar de amar a terra das nossas próprias raízes.
Estou seguro que muitos nascidos em Alpiarça, mas pelos condicionalismos da vida tiveram de ir viver para outros lados, entenderão bem as minhas palavras
……
E amar não significa deixar de criticar.
Os pais amam os filhos. E muitas vezes são os primeiros a criticarem-nos. Para os ajudarem a crescer, para os ajudarem a serem melhores.
Mas também têm de saber elogiá-los, incentivá-los, mostrar o seu carinho, o seu amor e o orgulho que têm neles.
Tal como em relação à nossa terra, podemos criticar, mas temos também de mostrar o nosso amor, o nosso orgulho.
O orgulho que temos em ser Alpiarcenses, quer tenhamos nascido em Alpiarça ou fora de Alpiarça.
E evitar que os “vizinhos” possam pensar que o nosso filho, ou a nossa terra, só têm é defeitos.
É fundamental espalhar o bom nome da nossa terra.
Que de facto é uma terra maravilhosa.
Todos sabemos que muitos nascidos fora de Alpiarça, são melhor Alpiarcenses, que muitos nascidos aqui.
Portanto a questão da origem é irrelevante.
Alpiarcenses são todos os que amam Alpiarça e têm orgulho nisso.
……
Mas também há outro tipo de “estrangeiros”.
Há aqueles que vieram morar para Alpiarça, talvez porque os terrenos aqui fossem mais baratos.
Há aqueles que vieram morar para Alpiarça, mas o seu sonho era viver em Almeirim, em Santarém ou em qualquer outro lugar.
Há aqueles que vieram morar para Alpiarça, mas que não respeitam os Alpiarcenses, não respeitam a história desta terra.
Há aqueles que vieram morar para Alpiarça, mas que apenas mostram desprezo pelo seu povo.
Há aqueles que vieram morar para Alpiarça, mas que não amam a nossa terra, nem nunca a irão amar.
Aliás detestam-na.
Acham Alpiarça uma terra suja, feia, insegura, sem liberdade, onde o seu povo é gente burra.
Que espalham um mau nome de Alpiarça, como uma terra tenebrosa.
Que de facto não é, antes pelo contrário.
E foi em relação a estes “estrangeiros” que eu entendi essa recente intervenção pública onde eram referidos os migrantes, polémica apenas, porque foi aproveitada artificialmente ao extremo, desonestamente, sem ao menos terem procurado entender o seu contexto.
O que é que eu faria se vivesse numa terra suja, feia, insegura, sem liberdade, onde o seu povo é gente burra e não fosse obrigado a viver aí?
Mudava de terra, ia-me embora.
E sei que seria esse o procedimento da generalidade das pessoas.
Porque a ponte por onde entrámos, é a mesma ponte por onde podemos sair.

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