domingo, 2 de outubro de 2016

ARTIGO DE OPINIÃO: "As searas de melão e melancia!"

Por: Rodolfo Colhe
Uma das principais actividades do nosso concelho chega agora ao fim, e refiro-me às searas de melão e melancia. Falo de uma cultura que se confunde em  muito com a cultura de Alpiarça e com o ritmo de vida da própria Vila. Os tempos hoje são outros, o número de produtores é inferior, o número de hectares são muito superiores e a percentagem de população envolvida é inferior ao que já foi. O que também mudou, foi o número de jovens que durante o verão aproveitavam o máximo de dias de trabalho possível, possibilitando depois ter alguns luxos, que sem essa actividade não poderiam ter, mas mais do que isso era quase o nosso ritual de passagem à idade adulta. E para esses jovens (como eu fui um dia) e para todos os que estão ligados a esta prática, é nesta altura que se arranca o plástico (o pior trabalho agrícola que realizei) e se faz contas a vida e se tiram conclusões. Eu não sou seareiro e provavelmente não virei a ser mas sou de uma família deles e posso vangloriar-me de ter falado sobre o assunto com alguns dos melhores produtores do nosso concelho e tirei algumas conclusões que valem o que valem mas o assunto merece, sem dúvida, ser pensado. Os grandes agricultores já com contractos de venda da fruta antes de esta estar plantada , vão conseguindo fazer escoar os seus produtos muitas e muitas vezes com preços abaixo do justo para a superior qualidade do seu produto, tanto ao nível do sabor como da sua produção. É muito complicado competir com a capacidade de produção de melão cultivado, usando as águas do Alqueva onde centenas de hectares de melão são plantadas todos os anos. Quanto aos pequenos e médios produtores, os problemas são outros e segundo tenho podido apurar, são mais graves levando a que com o passar dos anos muita gente começasse a abandonar esta prática. De uma coisa estou convicto, estes seareiros de áreas menores necessitam de ajuda para se poderem modernizar, actualizar e estar preparados para as exigências tanto de mercado como até legais e que esses mesmos seareiros estão dependentes para poderem continuar de uma estrutura organizada que lhes dê apoio desde o processo de produção até à venda. E ao falar disto, é fácil pensar em cooperativas e associações similares que nem sempre deram bons resultados e só o nome assusta muitos produtores mas a verdade é que essas associações poderiam ate funcionar caso tivessem exclusivamente nos seus quadros profissionais e não produtores. A outra hipótese passa pela criação de um gabinete municipal de apoio ao seareiro munida de técnicos capazes de responder as necessidades. Bem, os tempos são outros e ninguém quer cometer os mesmos erros e a pergunta é uma só, quem tem a responsabilidade de iniciar esta organização e como dar o primeiro passo? Na minha modesta opinião, o primeiro passo é tornar o Parque do Carril num mercado organizado e eficiente com regras que favoreçam todos os que nele vendem, conseguindo um entendimento diário sobre o preço a praticar. E quando falamos de vender seja o que for, o marketing, é muito importante e relativamente a isso conto uma história que se passou comigo há poucos dias quando um amigo meu de Almeirim me disse que iria provar que o melão era realmente de Almeirim e levou-me então a zona dos restaurantes em Almeirim e qual foi a minha a surpresa ao ver um quiosque de venda de melão de Almeirim onde cada unidade era vendida salvo erro a 5€. Logicamente, perguntei-lhe se os melões tinham sido plantados entre carreiras da vinha, como geralmente gozo quando me dizem que o melão não é de Alpiarça. A verdade é só uma, neste momento a sopa da pedra é de Almeirim, os ovos moles são de Aveiro e o melão não é de Alpiarça quando o é.

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