domingo, 21 de julho de 2019

ARTIGO DE OPINIÃO: Não esquecemos

Por:
Rodolfo Colhe


No passado dia 5 aproveitando uns dias em família visitei o Museu Nacional Resistência e Liberdade – Fortaleza de Peniche, e aconselho todos a fazê-lo. Certo será que a minha visita foi privilegiada por ter sido acompanhado por alguém que visitou o pai naquela prisão, neste caso o meu pai.
Foi muito agradável ler no memorial dos presos políticos o nome do meu avô Manuel Mendes Colhe, mas também de outros alpiarcenses como o Carlos Pinhão Correia e o António Malaquias Abalada, António Curvacho Centeio provavelmente outros nomes passaram-me ao lado e peço desculpa por falar neste assunto sem os referir. Confesso e falo com este grau de pessoalidade porque este artigo é mais do que pessoal. Senti uma série de sensações que não esperava sentir, com uma intensidade tal que o politicamente correto foi á vida naqueles momentos que lá passei, dificilmente consigo transmitir em palavras o que pensei, não tenho um décimo da habilidade na escrita de muitos dos que passaram na naquela prisão como Álvaro Cunhal (engraçado que ou por ser tantas vezes tocado ou por mestria do artista o nome Alvaro Cunhal destaca-se pela coloração no memorial) entre outro, mas há dois momentos que partilho, o primeiro uma declaração do José Pedro Soares disponível em vídeo, ele que estava preso aquando do 25 de abril, onde ele diz “saber que houve um levantamento militar, feito por JOVENS militares em que o povo foi logo atrás”, outro dos momentos foi a leitura do decálogo do Estado Novo nomeadamente o seu ponto 6 "Não há Estado Forte onde o Poder Executivo o não é. O Parlamentarismo subordinava o Governo à tirania da assembleia política, através da ditadura irresponsável e tumultuaria dos partidos. O ESTADO NOVO garante a existência do Estado Forte, pela segurança, independência e continuidade da chefia do Estado e do Governo”.
Partindo destes dois momentos e tendo recuperado em parte o politicamente correto perdido naquele dia vou tentar pelo menos explanar o que me veio à cabeça.

Certamente em primeira instância percebi o quanto são pequenos os que hoje usam indiscriminadamente e sem nenhum pudor o termo “liberdade de expressão” retirando-lho o peso que tem em nome de uma qualquer parvoíce, ordinarice e ou atitude racista ou fascista, temos liberdade de expressão, mas temos de respeitar os valores de quem trabalhou por ela. Depois, e, sem nenhuma simpatia ou boa educações lembrei-me dos que tanto desprezam o Estado e as suas estruturas bem como os partidos e os políticos, esses que talvez preferissem acabar com a “ditadura irresponsável e tumultuaria dos partidos”, estou a ser muito duro? Estou! Estou a ser injusto? Sinceramente penso que não. Há muito para mudar, mas só o há porque temos Estado e representantes com quem podemos concordar e discordar, mas também porque ainda é o voto quem mais ordena e porque somos livres PORRA.
Olhar para uma parte tão importante da nossa história coletiva naquela fortaleza deu-me força, fez-me acreditar na força dos portugueses no geral e nos alpiarcenses em específico, e voltando atrás as palavras do José Pedro Soares, os jovens agiram e o “povo foi logo atrás”. Ser jovem deve engrandecer-nos e nunca nos diminuir.
Mesmo não estando ainda concluídas as suas obras, ninguém deve perder a oportunidade de visitar este pedaço de história.

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