domingo, 18 de março de 2018

Sequelas da guerra e do pós-guerra


Embora seja um texto um pouco extenso, vale a pena ler e reflectir neste grito de dor e de revolta ainda com eco nos dias de hoje, do ex-oficial Comando Pedro Tinoco de Faria. Este sentimento de abandono e esquecimento a que foram votados milhares de homens, jovens na altura, vítimas da Guerra Colonial não tem razão de ser. Eles não instigaram a guerra, não desejaram a guerra.. Eles apenas cumpriram ordens do Estado Português! Foram feridos, estropiados, ficaram deficientes. Cabe ao Estado Português a responsabilidade de olhar por eles e proporcionar-lhes um resto de vida com a dignidade a que têm direito.




OS NOSSOS SOLDADOS E O MEDO DE EXISTIR

Segundo o Filosofo e pensador José Gil, pertencemos a um espaço não publico todos nós, o Espaço Publico é definido pela politica e pelos midia. Quem está fora do espaço publico, não é publico e por isso nao existe, é não publico, não aparece, não altera, não muda embora tendo a ilusão que está dentro está fora.

" Não há espaço publico em Portugal, porque este está nas mãos de uma quantas pessoas cujo discurso não faz mais que alimentar a inercia e o fechamento sobre si proprios da estrrutura das relações de força que elas representam....os debates confinam-se a trocas de opiniões entre homens politicos, sempre de um partido, visto que no mundo da politica não ha espaço para ser independente, ou entre comentadores, pretensos # opinian makers #, que dialogam constantemente entre si, em circulo fechado "

Jose´Gil do Livro " Portugal hoje, o medo de existir"

Hoje vim a correr de coimbra a lisboa, para estar presente numa concentração em frente ao hospital Militar Principal de Belem, organizada pelo General Médico João Bargão Dos Santos.

O tempo ajudou-nos nao chovia, uma multidão minima recheava a rua com uma presença maxima de almas que ainda acreditam que fazer qualquer coisa , seja o que for, vale a pena.
Esta multidão com mutilados de guerra, a maioria da geração que fez a guerra colonial misturando-se a pele branca dos europeus e negra dos combatentes africanos da Guiné, senti-me em casa.

Da nova geração de Militares do Pós-Guerra colonial eramos 3.

Estava representada a Associação dos Deficientes das Forças Armadas.

O objectivo deste grupo de poucos que lutam por muitos, reabrir as portas fechadas do hospital militar à familia militar, não só para os mais velhos , mas tambem para assegurar a todos os que não estiveram presentes, uma saúde e uma segurança na velhice , numa instituição militar e alertar para as condições miseraveis em que estão a morrer jovens de ha 40 anos atrás que deram pela sua Pátria o melhor que tinham.

É sem duvida importante o Casamento de homosexuais, é importante lutar contra o assédio e acabar com a sedução, é importante que cãés e crocodilos comam nos restaurantes, é importante que o Presidente da Republica na Grecia prometa a um Sirio que lhe vai arranjar emprego num pais com uma taxa de desemprego altissima, é importante fazer de conta que nos ralamos , mas na realidade estamos nos todos a marimbar uns para os outros.

As ausências têm uma narrativa, os espaços vazios na rua, entre os carros, as pedras sem os sapatos a pisa-las, a ausência do burburinho e clamor de uma multidão, o vazio desta concentração fala tambem e inscreve no futuro das Forças Armadas e da essência do SER SOLDADO, uma sentença de morte.

Embora O meu General tenha dito " somos poucos mas bons", essa frase heroica não serve os tempos de hoje, servia em combate , cercados por turras. Hoje o combate é outro, nem estamos cercados por turras, estamos cercados e rodeados por acomodados à normalidade da imoralidade, às quintas e ao politicamente correcto, as ausências e o espaço entre as pedras, o silêncio da calçada e os pombos que continuaram a cagar dos beirais, chocou-me , deixou triste, mas não desanimado

Hoje senti ali , ao ver aqueles homens de muletas, cegos e sem braços, pretos e brancos vestidos de forma humilde, combatentes e soldados de Portugal, senti falta de muitas ausências que deveriam ter sido a alegria de muitas presenças.

Sr. Presidente da Republica senti a sua falta, poderiamos ter tirados uma selfie e poderiamos ter dado um beijo.

Sr. CEMFGA, que forma mais honrosa de começar o seu mandato , como apoiar como militar e General , esta causa com a sua presença, ao lado dos esquecidos da Pátria, dos que morrem na miseria porque a Saude é um negocio e o hospital militar faz parte dessa estrutura suja e corrupta da negociatas.

Sr. CEME, consigo já não falo, já sabia que não vinha, nem o seu amigo Ministro da Defesa, a sua imagem aos olhos da Nação está desenhada. Senti falta da SIC, DA RTP, da TVI, mas tambem já sabia que não vinham, e as radios, não vieram e os pasquins e jornais nao vieram,, estavam todos na manif da CGTP, muito mais importante e colunavel, não vieram porque lhes deram ordens expressas para não vir.

AOFA, LIGA DOS COMBATENTES, ANS, ASMIR, AP, e todas as associações Militares, senti a vossa falta, quando chegara o dia em que a união é mais importante que o protagonismo? Afinal tanta conversa e estamos festarolas, se nada acontece e nada acontece , porque não entenderam que a competição só gera perdedores e vencedores e nós somos os perdedores.

Senti falta de todos os Militares jovens , Oficiais, sargentos e praças e suas familias os benificiarios maximos da luta deste grupo que de tão pequeno se torna tão grande pela inquietude, pela satisfação da sua insatisfação, pela vontade de despertar.

Cantamos o hino Nacional, gritamos por Portugal, e pela ausência aprendi uma lição....

" Somos poucos mas bons" e os poucos poderão fazer muito, por muitos que se acomodaram aos seus sofas e á sua vidinha confortavel de : não vale a pena , não adianta, parece mal, é o medo de existir.


Os meus Parabens ao General João Bargão Dos Santos pela coragem e para mudar as coisas só criando um espaço Publico alternativo ao que existe e para isso é preciso o principio da massa e o da concentração.

«Pedro Tinoco de Faria/Manuel da Costa».

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