segunda-feira, 17 de julho de 2017

O MELÃO ESTE ANO É BOM, O NEGÓCIO É QUE ESTÁ FRAQUINHO


Em vésperas de mais um Festival do Melão de Alpiarça, visitámos o mercado da fruta no parque do carril em Alpiarça, onde certame vai decorrer de 21 a 23 de julho. O movimento dos tratores, reboques e camiões carregados de meão e melancia mostra que a campanha já está em pleno.
Vencedora do concurso do melhor melão do Festival do ano passado, Florbela Arraiolos estava visivelmente satisfeita com o negócio que acabara de fazer: “Acabei de vender quase uma tonelada e meia de melão para a Suíça”.
“Este ano a produção e a qualidade do melão são muito boas, as chuvas da primavera e o calor deste verão ajudaram a fruta a amadurecer quase um mês mais cedo, o que nos deixou em igualdade com a concorrência da fruta espanhola”, diz-nos Florbela Arraiolos. As suas maiores queixas dizem respeito aos preços para revenda que, nesta terça-feira, rondavam os 25 cêntimos/kg para o melão e os 15 cêntimos para a melancia, mas já estiveram mais baixos. “É muito pouco, tudo o que for abaixo dos 50 cêntimos já não compensa os custos desta seara dispendiosa”, afirma a agricultora que, juntamente com o marido, Rui Arraiolos, exploram 2,5 hectares de terra no Mouchão do Veiga. No ano passado, foram nos vencedores do concurso do melhor melão e ficaram em 3.º lugar no concurso da melhor melancia, mas já tinha vencido outros lugares cimeiros em anteriores concursos organizados pelo Festival do Melão de Alpiarça.
O segredo da qualidade do seu melão? Floresbela Arraiolos responde que “é com muito trabalho e dedicação, trabalhando todos os dias, incluindo fins de semana e feriados; e depois temos a experiência de fazer estas searas há mkuitos anos, seguindo os passos dos nossos avós que já faziam searas de melão por estes campos do Ribatejo até Vila franca de Xira”.
“O melão é muito bom este ano, o tempo ajudou a amadurecer mais cedo, mas os preços nem por isso”, lamenta Lucília Coutinho que, juntamente com o filho David Coutinho, cultiva uma seara de 5 hectares na lezíria de Alpiarça e que já ficou em 2.º lugar nos concursos do melhor melão e melancia.
“Agora temos também a concorrência dos nossos vizinhos alentejanos e ainda dos marroquinos que evoluíram muito nestes anos e já estão a ganhar no mercado; nós por cá ficámos parados e agora é que é correr para apanhá-los”, afirma esta seareira.
“Veja o que se passou esta semana em Salvaterra, com os produtores a despejarem toneladas de batatas no estacionamento dos supermercados, em protesto pelos preços baixos que a distribuição lhes paga”, afirma Lucília Arraiolos, solidária com os colegas agricultores. “É tudo importado, e nós somos aniquilados pela concorrência”, queixa-se a produtora, defendendo que deveria dar-se primazia ao consumo dos produtos nacionais.
“O nosso problema começa nos agricultores que não são leais uns com os outros, não são capazes de se unir e concertar os preços frente aos armazenistas e intermediários; há sempre um ou outro que baixa uns cêntimos para passar a perna ao vizinho, mas todos acabamos a perder no negócio”, afirma Lucília Coutinho, lamentando a “falta de camaradagem dos produtores de Alpiarça”.
“Os nossos agricultores têm sempre dificuldades em escoar a produção, alguns já trabalham com as cadeias de distribuição, mas há muitos pequenos agricultores que ainda vendem sobretudo aos retalhistas e intermediários no mercado do Carril”, afirma o presidente da Câmara de Alpiarça. Daí o esforço da Câmara na organização do Festival do Melão que vai ser um momento de grande animação e de promoção do melão de Alpiarça, entre os dias 21 e 23 de julho no mercado da fruta do Parque do Carril.
“Pretendemos dar visibilidade mediática a este produto de excelência do concelho, e assim contribuir para a economia local”, adianta o autarca.
Mário Pereira recorda as tentativas falhadas de promover o associativismo dos produtores de Alpiarça, de forma a permitir criar escala e assim ter maior poder negocial junto da distribuição e dos retalhistas. “A Câmara está disponível para ajudar os agricultores, mas têm de se associar e criar uma organização de produtores que defenda os seus interesses e que inclusive sirva de interlocutor junto da Câmara e da Junta de freguesia na organização do Festival do Melão”, afirma Mário Pereira, reiterando o desafio aos produtores para que se organizem, contando desde já com a disponibilidade da autarquia para os apoiar nesse importante passo ,do ponto de vista institucional e com apoio logístico.
«Texto e foto do Semanário 'O Ribatejo'»

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