Por: Rodolfo Colhe
Serviço Militar obrigatório? Não me parece
Numa sociedade onde a informação
e desinformação circulam a uma velocidade muitas vezes superior àquela que o receptor
tem capacidade para analisar friamente, a prudência deve ser uma das mais
importantes características dos nossos governantes. Muitas vezes temas
fraturantes da sociedade são lançados para a discussão exatamente porque está
na altura de os discutir, porque há necessidade de apalpar terreno e para medir
as sensibilidades, outras vezes são erros políticos acidentalmente provocados
por uma qualquer razão ou provocados por uma qualquer “força” ou tendência que
quer colocar o tema na ordem do dia.
Prefiro neste momento acreditar
que as declarações do Ministro da Defesa Nacional Azeredo Lopes foram fruto do
erro politico acidental ou provocadas por alguma “força” não querendo crer que
o regresso do Serviço Militar Obrigatório (SMO) pelo menos como o conhecemos
possa estar em cima da mesa. Antes de dar concretamente a minha opinião digo
desde já que o tema é bastante mais complexo do que possa parecer e que gostava
até de ver fundamentadas as razões desta possível possibilidade, e aí talvez
pudesse eu próprio pelo menos suavizar a minha opinião.
Para mim como já é visível não
faz o mínimo sentido falar no regresso do SMO, se a ideia é falar nele da forma
como foi aplicado anteriormente, pela informação que tenho seria sem dúvida um
erro com consequências graves a vários níveis completamente destintos, erros
esses que iriam ser nocivos também para as próprias forças armadas. Nunca fui
militar, limitei-me por obrigação legal a participar no dia da Defesa Nacional,
mas em determinado momento da minha vida cheguei a olhar para a vida militar
como uma hipótese para a minha vida, tendo posteriormente percebido que nunca
me enquadraria e que não seria nem de perto nem de longe bom para o meu país,
tenho, pois, pelas forças armadas o respeito que elas merecem apesar das minhas
dúvidas sobre o seu funcionamento que guardo para mim por falta de
conhecimento. Mas voltando atrás na conversa seria positivo para as forças
armadas verem-se entupidas de jovens que não querem estar ali? Que não querem
seguir aquela carreira e que sentem que lhes estão a
dificultar o acesso a carreira que escolheram? Ficariam as forças armadas
valorizadas com o regresso do SMO quando parte dos seus quadros já não tem uma
forte ligação emocional as sua funções? Duvido muito.
O regresso do SMO não iria de todo
ser favorável ao aumento do número de estudantes do ensino superior nem a
progressão dessa carreira académica num momento em que o mercado se começa a
abrir aos jovens licenciados e mestres muitas vezes em áreas que estão em
elevado desenvolvimento no nosso país, e os jovens que optam pelo ensino
profissional que através dele conseguem iniciar uma carreira, deveriam
interrompe-la para cumprir SMO?
Todos estes possíveis atrasos no
projeto de vida não iriam também ser nocivas no combate a baixa taxa de natalidade
de Portugal?
Outra questão que me salta
rapidamente a vista é a questão financeira, não seria também um aumento enorme
da despesa com os mancebos a cumprir o SMO, alguns dos quais poderiam já estar
a descontar sobre o seu vencimento e com um poder de compra superior o que lhes
possibilitaria contribuir mais para o país.
Nem tudo a volta do SMO nem todas
as posições são descabidas, posso concordar com Manuel Alegre (alguém de quem
muitas vezes discordo, mas que não deixo de admirar) quando diz que “os jovens
têm direitos, mas também têm deveres de cidadania” já discordo quando diz que “cumprir
o SMO é um deles”, ou pelo menos tenho muitas dúvidas que seja o mais
importante dever de cidadania, ou que não haja muitas formas de exercer a
cidadania, eu sinto que o faço na minha ação política e enquanto ser humano.
Acho que o tema merece uma
discussão, mas tendo logo como ponto partida que nunca poderia ter moldes
sequer semelhantes aos que anteriormente eram utilizados.
Apesar das críticas é um tema que
deixa sempre dúvidas, e onde é possível que uma boa clarificação possa levar os
jovens a formar uma opinião concreta.
Uma palavra de força para a JS
pela forma pronta como se pronunciou sobre o tema e teve capacidade de se fazer
ouvir, quando todas as outras juventudes optam pelo silêncio.
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